Sabe uma parada que me deixa puta? Essas histórias de que mulher ter que se "comportar" porque o mundo espera que ela seja de uma forma. Devemos ter uma certa conduta que foi estipulada como a correta pela sociedade caso contrário somos taxadas como "fáceis", "putas", "vulgares", dentre outros adoráveis adjetivos. ¬¬''
O mundo espera uma atitude "correta" de nós, mas o mundo não é justo conosco! Além de, após vários anos de lutas por direitos iguais, ainda sermos diminuídas por nosso sexo, somos iludidas sobre um tal dum príncipe encantado que virá nos salvar, montado em seu cavalo branco. O tempo passa e nós esperamos, mesmo que inconscientemente, pelo dia em que ele virá nos salvar de nós mesmas. Nós esperamos. Por um bom tempo esperamos. Até que, enfim, conhecemos um rapaz bonito, inteligente, bom de papo, que nos promete seu coração e todas as estrelas do céu. Cuidamos dele com amor, e ele por sua vez, cuida de nós nos mostrando o que ele já conheceu do mundo. Nos apaixonamos, achando que aquilo era a concretização de tudo que nos haviam prometido quando éramos pequenas. Mas nós não conhecíamos a dor... Não sabíamos o que era um coração partido, muito menos as lágrimas que este causava.
Até que o jovem rapaz erra. Se permite nos desejos e anseios mais primitivos do homem. E com isso, noso príncipe encantado vira sapo-feiticeiro, perde o encanto e desaparece. E quanto a nós... Nós então conhecemos a dor. E junto dela, a solidão, a raiva, a mágoa, a tristeza, a angústia... Até nos darmos conta de que o rapaz era o menor de nossos problemas. Pelo contrário, após algum tempo, ele nem relevante mais era. Nosso grande problema era, na verdade, o mundo. O mundo estava errado. E se o mundo não agia da forma que nós esperávamos dele, nós também não agiríamos da forma que o mundo esperava de nós. E nesse momento nos tornamos livres.
Com essa nova liberdade, percebemos também que o amor e o príncipe encantado não poderiam ser as únicas coisas boas de se ter. Então nós resolvemos
experimentar.
Descobrimos as maravilhas do salto alto, das mini saias, dos decotes ousados, dos vestidos colados... Descobrimos que alguns drinks funcionavam melhor que chocolate. Pintamos as unhas de carmim. Nos envolvemos com um homem mais velho. Nos envolvemos com um homem mais novo. Descobrimos que conseguíamos nos envolver novamente. E que um relacionamento podia se tornar melhor que o que passou. Saímos pra barzinhos, boates e afins... Aprendemos a beber vodka e a degustar um
bom vinho. Cortamos o cabelo bem curtinho. Fazemos uma franja. Alisamos o cabelo e trocamos da cor para o ruivo que sempre sonhamos em ter.Viajamos para um lugar exótico e nos envolvemos novamente. Descobrimos que existem relações sem exigências, sem compromissos, mas com sinceridade e prazer. Fazemos amigos, damos conselhos, falamos palavrão e bebemos chopp vendo os jogos de futebol. Passamos a entender o verdadeiro significado de um bom carnaval. Nos apaixonamos por arte, música e pessoas. Pulamos, gritamos, brigamos e nos reconciliamos. Analizamos. Selecionamos. Vivemos.
No meio do caminho, encontramos muitas lágrimas, muita saudade, muitas recaídas e algumas vezes, um cansaço de continuar vivendo. Mas sempre que chegamos perto de desistir, nos lembramos de que o errado é o mundo, não nós mesmas. E com isso, nos revigoramos em nossa inesgotável necessidade vingativa de provar pro mundo que não existe certo e errado, e que podemos ser quem nós quisermos. Aos poucos, vamos deixando pra trás qualquer resquício daquela menina inocente e em paz com o mundo. Com o tempo, aprendemos a superar nossas mágoas, a secar nossas lágrimas e a viver com nossos fantasmas, nossos medos e, principalmente, com a ausência.
No fim da história, as mulheres fortes, com tanta convicção, com tanto desejo de nos livrarmos de quem éramos, acabamos, de fato, nos transformando na própria personagem que criamos. Nunca mais voltando a ser as mesmas. Nunca mais assistindo futebol sem tomar cerveja, pintando as unhas de branco e usando vestidos longos. Nossa essência passa a estar no vermelho de nossos cabelos, no saber de nossas escolhas independentes, no nosso salto alto de cada noitada!
Portanto, aqui vai minha súplica ao sexo feminino: não deixem de experimentar novas sensações por medo da reação do mundo. Você não é a errada. Seus desejos não são vergonhosos. O mundo que é. Ouse, faça e aconteça; erre, tropece, caia e se levante. Experimente. Viva! E lembre-se: você pode ser tudo que você quiser. Não duvide disso!
Ana Oliveira.